Game Hacking

Game Hacking

Game Hacking refere-se à prática de modificar jogos digitais com o objetivo de alterar seu comportamento original. Essas alterações podem ser simples, como aumentar a quantidade de vida de um personagem, ou mais complexas, como remover limitações impostas pelo próprio jogo. Em um nível mais avançado, tais modificações podem incluir a adição de novas mecânicas, criação de conteúdos inéditos (mods), ou até mesmo a correção de falhas e bugs deixados pelos desenvolvedores.

Contudo, o game hacking também pode ser utilizado de forma controversa, especialmente quando é empregado para gerar vantagens indevidas. Nesses casos, surgem os chamados cheats, que são recursos artificiais inseridos no jogo para desbalancear as regras, como permitir enxergar através de paredes (wallhack), obter invulnerabilidade (god mode), ou automatizar ações com precisão sobre-humana (aimbot, triggerbot, entre outros).

Por que estudar Game Hacking?

Estudar game hacking é, antes de tudo, uma maneira altamente prática e envolvente de aprender engenharia reversa, além de proporcionar uma compreensão mais profunda de conceitos fundamentais da computação, como gerenciamento de memória, estruturas de processos, e manipulação em tempo de execução. Por isso, essa área acaba sendo uma excelente porta de entrada para o mundo da cibersegurança e das competições de Capture The Flag (CTFs), nas quais muitas vezes são exigidas habilidades semelhantes.

Além do aspecto técnico, game hacking também oferece uma nova perspectiva para desenvolvedores de jogos. Ao entender como os jogos podem ser analisados e explorados, é possível criar sistemas mais robustos, implementando proteções desde as fases iniciais do desenvolvimento. Assim, o conhecimento em game hacking não apenas expande seu domínio técnico, mas também aprimora sua capacidade de projetar jogos mais seguros e resistentes a manipulações.

Dica para iniciantes: Comece explorando jogos mais simples ou antigos, pois os jogos modernos tendem a utilizar arquiteturas complexas, proteção contra depuração, e técnicas avançadas de ofuscação. Uma excelente opção para começar é o Pwn Adventure 3, um jogo desenvolvido especificamente para CTFs, criado com o objetivo de ser manipulado via cheats como parte do desafio.

Conceitos Básicos

Ao estudar game hacking, é comum se deparar com alguns conceitos fundamentais que servem de base para a maioria das técnicas usadas na área. Entender esses conceitos é essencial antes de partir para práticas mais avançadas.

  • Memória de Processo: Refere-se à área de memória alocada para o jogo enquanto ele está em execução. É nela que ficam armazenados todos os dados temporários, como vida, posição de personagens, munição e até configurações gráficas. Manipular a memória de processo é uma das formas mais comuns de alterar o comportamento de um jogo em tempo real.

  • Memory Scanning (Varredura de Memória): É a técnica de buscar por valores específicos dentro da memória de um processo. Ferramentas como o Cheat Engine permitem escanear a memória do jogo em busca de valores como vida, dinheiro ou tempo, com base em filtros sucessivos (por exemplo: procurar um valor que "diminuiu" ou "permaneceu igual" após uma ação no jogo).

  • Injeção de Código: Consiste em adicionar novas instruções dentro do processo do jogo. Isso pode ser feito, por exemplo, sobrescrevendo trechos de código original para alterar a lógica de execução. A injeção permite criar funcionalidades completamente novas ou modificar funções existentes, como impedir a redução de vida ao tomar dano.

  • Hooking: É o processo de interceptar chamadas de funções dentro do jogo (ou em suas bibliotecas). Por meio de um hook, é possível alterar parâmetros, modificar retornos ou até capturar eventos específicos (como quando o jogador atira ou quando o inimigo recebe dano). Técnicas de hooking são muito usadas tanto para cheats quanto para ferramentas de monitoramento e mods.

  • Engenharia Reversa: É o estudo do código binário do jogo com o objetivo de entender seu funcionamento interno, mesmo sem acesso ao código-fonte original. Normalmente envolve o uso de debuggers (como x64dbg) e disassemblers/decompilers (como Ghidra ou IDA Free). Por meio da engenharia reversa, é possível localizar funções críticas, entender estruturas de dados e descobrir onde determinados comportamentos são implementados.

Fundamentos de jogos

Jogos digitais são aplicações altamente complexas, compostas por diversos sistemas que interagem entre si. Entre os principais componentes podemos destacar: áudio, gráficos, controle de inputs (entradas do jogador), simulações físicas e, claro, a lógica de jogo propriamente dita.

Grande parte dessas funcionalidades é implementada através de bibliotecas externas, que são conjuntos de códigos reutilizáveis projetados para facilitar o desenvolvimento de aplicações. O uso de bibliotecas reduz significativamente a quantidade de código que os desenvolvedores precisam escrever do zero. Por exemplo, bibliotecas gráficas como DirectX ou OpenGL são amplamente utilizadas para o processamento e renderização de gráficos 2D e 3D.

Compreender quais bibliotecas um jogo utiliza pode ser uma informação valiosa para quem estuda game hacking, já que muitas técnicas de cheating exploram diretamente essas camadas. Um exemplo clássico são os wallhacks, que manipulam o sistema de renderização gráfica para exibir objetos ou jogadores que normalmente estariam ocultos pelas paredes.

Além da manipulação gráfica, outros tipos de cheats atuam diretamente na lógica do jogo. É nessa camada que ocorrem os cálculos de pontos de vida, recompensas financeiras, movimentação de personagens, entre outros elementos essenciais para a dinâmica de jogo. Alterar esses valores em tempo de execução é uma das abordagens mais comuns em game hacking, especialmente quando o jogo processa essas informações de forma local, sem validação externa.

Estrutura

Embora cada jogo seja desenvolvido de forma diferente, com variações nas linguagens de programação, arquiteturas e motores gráficos (game engines), a maioria segue uma estrutura fundamental composta por dois elementos principais: uma função de setup e um main loop.

A função de setup é responsável por inicializar o jogo. Nessa etapa, os recursos necessários — como modelos 3D, texturas, sons e scripts — são carregados da memória secundária (disco rígido ou SSD) para a memória principal (RAM), onde podem ser acessados rapidamente durante a execução.

Já o main loop é o núcleo da execução contínua do jogo. Enquanto o jogo estiver em funcionamento, esse laço será repetido continuamente, sendo responsável por orquestrar as diversas funções essenciais ao funcionamento do jogo. Entre as principais tarefas do main loop, podemos destacar:

  • Leitura de inputs: Captura de comandos do jogador (teclado, mouse, controle, etc.).

  • Atualização da lógica de jogo: Processamento de eventos, colisões, movimentações, inteligência artificial, etc.

  • Renderização: Atualização e exibição dos gráficos na tela.

  • Atualização de áudio: Execução de efeitos sonoros e músicas, se necessário.

A ordem e a forma como essas tarefas são executadas dentro do main loop podem variar bastante de um projeto para outro, ficando a critério dos desenvolvedores. Essa estrutura cíclica, porém, é uma característica quase universal nos jogos em tempo real.

Dados Armazenados

Tudo o que um jogo manipula e precisa manter enquanto está em execução é armazenado em variáveis na memória. Isso inclui desde informações básicas sobre o jogador, como vida, dinheiro e posição, até parâmetros de sistema, como configurações gráficas e de áudio.

Um aspecto importante a se entender é que os dados das entidades do jogo (como o Player, inimigos, NPCs, etc.) geralmente são organizados de maneira estruturada para facilitar a programação. Seria inviável para um desenvolvedor declarar uma variável separada para cada atributo de cada entidade existente no jogo. Por isso, é comum o uso de estruturas de dados como arrays, listas dinâmicas, ou — de forma ainda mais recorrente — o uso de classes, dentro do paradigma de orientação a objetos.

Em jogos orientados a objetos, cada entidade do jogo é vista como uma instância (um "objeto") de uma classe, que define os atributos (variáveis) e os métodos (funções) associados àquela entidade. Isso permite que o código seja mais organizado, modular e reutilizável.

Abaixo, um exemplo simplificado de como uma classe de jogador poderia ser definida em C++:

class Player {
	private: 
		int vida;  
		int moedas;   
		float velocidade;
		
	public:
		int getVida() { return vida; }
		int getMoedas() { return moedas; }
		float getVelocidade() { return velocidade; }
};

Nesta classe:

  • Atributos privados (vida, moedas, velocidade) armazenam os dados internos da entidade.

  • Métodos públicos (getVida(), getMoedas(), getVelocidade()) permitem acessar os valores de forma controlada.

Sabendo que todos esses dados ficam carregados na memória principal (RAM) enquanto o jogo está em execução, é justamente ali que um game hacker pode atuar. Por meio de técnicas de análise de memória, é possível localizar essas variáveis e até modificá-las durante o tempo de execução, alterando o comportamento do jogo em tempo real.

Cheats

De forma geral, ao desenvolver um cheat para um jogo — seja uma modificação simples, como alterar a quantidade de vida, ou algo mais complexo, como modificar o comportamento de entidades — você pode seguir um processo de quatro etapas fundamentais. Essas etapas ajudam a organizar o raciocínio e a tornar o desenvolvimento mais eficiente.

  1. Identificar: O primeiro passo é definir claramente o que você deseja modificar. Isso pode incluir valores numéricos como vida, dinheiro ou munição, ou até mesmo comportamentos mais avançados, como a movimentação de uma entidade ou a lógica de colisão.

  2. Entender: Depois de saber o que você quer alterar, o próximo passo é entender como esse elemento está representado dentro do jogo. Ele pode estar armazenado como uma variável simples na memória, fazer parte de uma estrutura de dados, ser gerado por uma sequência específica de instruções de código, ou até mesmo estar gravado em um arquivo externo (como um save file ou configuração).

  3. Localizar: Compreendendo a forma como o alvo é representado, é hora de localizá-lo. Se for uma variável na memória, você precisará fazer uma varredura (memory scan) para encontrá-la. Se for uma sequência de instruções, será necessário analisar o código binário do jogo para encontrar o trecho correspondente. Se estiver em um arquivo, pode ser preciso abrir o arquivo em um editor hexadecimal ou realizar engenharia reversa no formato de armazenamento.

  4. Modificar: Por fim, após localizar o alvo, chega o momento de realizar a modificação. Essa alteração pode ser feita manualmente (através de ferramentas como Cheat Engine ou um editor hexadecimal), ou de forma automatizada por meio de um programa próprio que você desenvolva para aplicar o cheat sempre que o jogo for executado.

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